O tempo passa despercebidamente, e cada vez mais tu foges, tu foges de si, dos teus sonhos, do teu reflexo. O teu medo faz com que tu te afastes e você ainda prefere viver como um foragido à encarar o próprio olhar.
É impressionante como a vida encontra maneiras de nos mostrar o rumo da nossa história, e não, nós não podemos evitar. Ela me proporcionou um espetáculo que provou que a minha realização vital é a arte, levando-me a refletir. Eu existo porque a arte vive e rege meus dias. O prazer propiciado pelo soar de um aplauso é colossal à dor da labuta diária, compensando enfim não apenas viver, mas deixar que a arte viva em mim.
Temo estar sentindo certos amores incertos
Anseio teus lábios libertos
Desconhecendo todo o medo de te tocar
Encontro em você meu reflexo
Perdendo-me ao poder te enxergar
Amar-te é alçar livre voo
Sumir de mim para encontrar-me em ti
E estar em ti, para meu sonho findar.
Ser muito, no meu pouco, ser
Ser nada, para o meu nada, ser
Ser tanto, para o meu canto, ser
Ser seda, asperamente, ser
Existir, para simplesmente, ser.
Não mais que depressa
Escorre a graça de menina
Esvai, e carrega consigo a petulância da adolescência
Dez, dez partes dela depositadas no mundo
Sucumbiu seu pouco, parar dar-lhes o todo
Sem cessar desgastou-se, sofreu e amou,
Então vos diz
Com suas secundinas palavras
Que para si basta ser honrada
Até que seu ultimo sussurro
Seja ouvido no escuro.
Crê, esta enojada criatura a teu lado mora
Te ilude e cega
Depois que tua alma dilacera
Te consome as forças e te joga fora
É esta vil, cretina, desvairada
Que te acaricia e corta
E te atira, para em pranto entregar-te
Meu caro, não te retardeis
São os que mais confias
Que mostram a língua bipartida
Tomeis cuidado com esta carnificina
Quando nada de ti restar
Facilmente é feita a troca
Retoma o ciclo,espreita
Para efetuar outro sofrimento ao fim da rota.
(Raniere de Carvalho)
Meus loucos pensamentos começaram
Emergem sem tempo de controlar
Bagunçam minha mente, o seu vil lar
Em combate a tudo que dissiparam
À luz das idéias enfurecidas
Alastrando pavor ao raciocínio
Sem se preocupar com seu fascínio
Controlando a aflição das feridas
Ponho tudo no papel, me amenizo
Escoam palavras a deslizar
Suavemente, como a fina bruma
Emudece o verso ao soar do guizo
Uma onda quebra novamente ao mar
Faz-se poesia, e, vês, tudo se apruma
(Raniere de Carvalho e Vitor Fernandes)
Exala teu perfume!
Oh doce, e sempre humilde criatura,
Contemplo-te, és o cume
Não há em outra tão bela formosura.
Momento sagrado,
De tudo és perfeição!
De nada desvio o olhar pactuado
Contentando-me sem ter-te nas mãos.
Apenas seja agitada pelo vento,
Mas que nenhuma pétala seja arrancada ao relento
Ainda, sejas rosa.
Mesmo que tu murches, heroína!
Sucumbindo pela rotina,
Sejas a rosa de todas as rosas.
(Raniere de Carvalho)